30 de novembro de 2010

Figurinha

Do onírico vemos pedras caindo nos jardins das flores
Com pássaros e demais sabores,
Corpos de folhas e de galhos,
Secos,
Por dentro, por fora e por inteiro,
Arcaico no ontem que hoje permanece,
Na chuva caída tem época e tempo que se foi,
Por não mais um monte de coisas, por não mais nada.
Cuidados àqueles que entre poucos vê-se água pura,
Raros, rarefeitos de espelhos limpos;
Os demais: águas mortas de brilhar o que não se quer ver,
Nos olhos, nos traços, no suor e gestos falsos,
De tudo cheirar mal, com tanto pombo, rato morto "e gente fazendo arte só pra comer".
Máscaras caídas aos pés daquela que não é ela,
E dele que na verdade querendo ser ela não é ele e nem é ela
___“Veredeiro”nas veredas das minas "cassando" ouro...
O convívio de pensamentos e sentimentos alheios,
Que sem querer se vê se ouve e se sente,
Ficando tudo mudo, observando o mundo, sem fundo e nem lógica,
Pelo menos até o fim de tudo, caso ele um dia venha a existir.

27 de novembro de 2010

Banhando junto aos tatus


A casa não era tão bonita como a da avó. Não tinha alpendre nem janelas cor de azul. Elas na verdade não tinham cor, eram marrom, cor de madeira mesmo. Quadradas e marrons e sem alpendre. As portas me lembro apenas a da cozinha que até hoje é de madeira e pintada de amarela e a da sala me esqueci como era...
__Mãe, as nuvens sempre caem junto com a chuva?
__Não Joana. As nuvens nunca caem e se um dia cairem farão um buraco tão grande na terra que todos morreriam. Pare de olhar pra elas! Há e se tiver a sorte delas não cairem sobre você pode ficar cega com a sua brancura.
__Mas posso olhar só mais um pouco mãe?
__Pode filha. Olha só, vê ali, aquela no rumo do pé de limão...
__Qual mãe?
__Aquela lá ó! Está imitando um cachorro.
__Aquela um gato!
__E a outra uma vaca!
__Uma flor!
__Um peixe!
__Olha só aquelas: é a mãe e a filha! (Pausa breve).
__Mãe as nuvens também tem filhos?
__Sim, igual todo mundo.
__Elas tem nomes?
__Tem. Mas mudam sempre. Preste atenção para você ver, elas podem imitar tudo o que existe no mundo. As nuvens podem ser tudo e todos sempre.
__Por que?
__Porque elas estão perto de Deus.
Eu quero ser uma nuvem. Ter o poder de ser várias coisas. Imagine. Deve ser mais legal que ser gente e ainda ver tudo lá de cima. Eu ia ficar mais alta que os passarinhos e ficaria mais perto da lua. Correria os céus, o mundo todo.
__Mãe, o mundo é grande?
__Sim, filha, é muito grande.
__Que tamanho? Assim?
__Não Joana, bem maior, muito maior, é infinito.
__Mãe que tamanho que é o infinito?
__O infinito não tem tamanho, é infinito.
__Uhn...E onde ele mora?
__Em cima das nuvens. No céu.
Pensando melhor acho que quero ser o infinito, passaria as nuvens, seria amiga de todas elas, não precisaria mais dos pássaros e ainda não teria fim e nem tamanho, estaria além de tudo. Realmente é melhor ser o infinito.
__Mãe, o infinito tem filhos?
__Não, o infinito é sozinho.
Bem não sei mais se queria ser o infinito, mas se bem que veria tudo, conheceria tudo e de todos, estaria onde ninguém mais poderia estar.
__Mãe posso brincar ali na grama?
__Não, fica aqui. Vai chover. É perigoso.
__Como sabe que vai chover?
__É só prestar atenção no barulho do vento e da chuva caindo lá longe. Sinta o cheiro dela chegando.
__Não estou sentindo nada Mãe!
__Fecha o olho filha que você vai sentir o cheiro e ouvir o som dela.
__Mãe, a chuva é brava?
__Não, por quê?
__Oras, porque a senhora falou que é perigoso. Se ela não é má e não é brava porque é não posso ir?
__Porque se tomar chuva fica doente!
__Mãe, por que a vaca não fica doente, nem o passarinho, nem o Fiel, nem o boi, nem as galinhas? Eles todos ficam debaixo de chuva!
__Joana fica aqui olhando sua irmã! Mamãe vai costurar.
Minha irmã dormia como um anjinho no berço. Gordinha, branquinha. Gabriela era muito branca e tinha os cabelos iguais aos anjinhos. Diferentes dos meus que eram pretos, muito lisos e grandes. E minha pele era escura igual ao meu avô, só não tinha aqueles quadradinhos, a minha ainda era lisa. Olhei alguns instantes para o berço. Gabriela dormia. Ela só sabia dormir, poxa! Preguiçosa. Minha mãe estava na sala costurando. Eu ouvia a máquina e o radinho vermelho dela ligado na rádio Nacional de Brasília. Tava passando a novela que ela ouvia todo dia. Olhei pela janela, a chuva caía forte. As galinhas corriam pelo quintal à procura de um lugar pra se esconder. Elas eram tão bobas, podiam ficar na chuva e não ficavam. Espertas eram as vacas que continuavam como se nada tivesse acontecendo. Mas se elas não ficavam doentes eu também não ficaria. E foi então que experimentei pela primeira vez a sensação de contradizer a minha mãe. Pé por pé eu atravessei o salão, a cozinha e quando me encontrei no terreiro debaixo de chuva, saí correndo, passei por debaixo da porteira e corri e pulei e dancei debaixo da chuva. Era fria de fato, mas caíam tão forte sobre minha cabeça, meus braços, que nem sentia o quanto estava frio. Agora sim, mais do que nunca sentia o cheiro da chuva, ouvia o seu som. Quando dei por mim estava dentro de uma enxurrada, nadando junto aos tatus.

trecho retirado da obra JoAna, Ana que anda... (Continua...

Os domingos Sacros

O sino era o sinal que estava pra começar. Sinceramente dava uma "baita" vontade de rir daquilo tudo. Sempre pedia a Deus perdão, mas era tudo muito engraçado e não rir ficava difícil. Toda aquela gente de cabeça baixa, sofridos, arrependidos de não sei o que , falando baixinho pra ninguém entender nada sobre seus pecados. Mas passavam poucos minutos após o sermão todos voltavam ao normal e aja língua e olhos! O padre na frente seguido daquelas mulheres de véu na cabeça carregando coisas pra cá e pra lá. Ainda bem que tinham as janelas de vidro desenhadas contando a história de Jesus. Era um passa tempo e tanto imaginar todos os lugares que Cristo passou, só me deixava triste o quanto ele sofreu, nossa, e foi muito mesmo, me dava medo e ficava tentando imaginar o que ele deveria ter feito pra sofrer daquele jeito; outra dúvida que tinha foi como foram tiradas as fotos, será que Cristo era da idade dos meus pais? Lembro da mãe contar que máquina fotográfica era recente; Vai saber!

E ao soar do décimo a gente subia por aquela estrada de terra vermelha. O sol ardia a cabeça. Minha mãe e minhas tias iam conversando que nem maritacas e como sempre falando da vida de alguém. Esperto era meu pai que sempre arranjava uma desculpa e ficava pra trás. Um dia seria tão esperta quanto ele.

Quanta gente! As escadarias da igreja eram lindas, e eu ficava maravilhada com as pedrinhas que brilhavam com o sol, as vidraças todas desenhadas. Realmente estava em um lugar sagrado, a casa de Deus.
Mas como que Deus sendo apenas um, tinha tantas casas? Bem que ele podia repartir algumas; Muitos dos meus primos não tinham casa e ficavam mudando de fazenda a fazenda.

As paredes brilhavam tanto! Eu só não gostava das pedrinhas, elas machucavam. Acho que Deus não gostava que as pessoas se encostassem nas paredes da sua casa, deveria ser por isso das pedrinhas. Mas tinha uma coisa que desanimava ir à missa: aquele tanto de gente me apertando, aqueles perfumes doces, quando não parecia com aqueles remédios de matar barata.
__Como ela cresceu, está tão linda. Coitadinha, ela é muda? Não fala?

Lógico, se eu era muda, seria um tanto difícil falar, mas tudo bem. As vezes é bom as pessoas acharem que temos algum retardamento ou incapacidade, é melhor.
__Joana é assim, calada. Um bichinho do mato.
__Tem de levar ela no Dr. Genebaldo. A filha da Constantina era assim quando criança.
__E a menina ainda está dando trabalho pra mãe? Coitada dela. Deus me livre e guarde.
__Que nada comadre! Você não soube? A filha da Constantina morreu semana passada! Enfim deu descanso pra mãe. Não vê ela lá na frente. Ali ao lado do Joaquim?
__Mas ela não está de preto. A família sempre veste preto quando morre alguém!
__Pois é, mas a morte da filha foi um descanso à pobre. Todos agradeceram.
__É, e eu ouvi falar que o filho do João Pedro tá ficando assim também. Ouve vozes. Fala coisas estranhas que ninguém entende. Corre pelo pasto. Grita. Foi assim, é sempre assim, eles saem pra estudar, voltam pra fazenda e ficam loucos. Deus que me livre.
Será que eu iria ficar louca também? Pensava. Eu ouvia vozes, conversava com meu amigo invisível. Mas eu não tinha nada o que conversar com aquela gente.

__Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo...
__Amém!
__Responde amém em voz alta Joana! Pra Deus te escutar e saber que está aqui.
__Amém.
__Cordeiros de Deus que tirai os pecados do mundo!
__Amém!

Como será que pequenas ovelhas iriam tirar todos os pecados do mundo? Será que elas na verdade eram cavalos de algum valente semelhante a São Jorge? Só podia ser. Cavalos estranhos. Deveriam ser anões os guerreiros, ao invés de gigantes como os de São Jorge. Ele sim era um herói valente. Realmente não conseguia imaginar como que simples carneiros conseguiriam tirar todo o pecado do mundo.
__Amém!

trecho retirado da obra JoAna, Ana que anda... (Continua...

A porteira...
Os causos e acasos
os laços amarrados
os cavalos domados...


Pegadas pisadas pelo mesmo passo
nas asas da cigana
ou no laço que desfaço;

O conto daqueles casos
Acontecidos ou inventados
Melodiosos cantantes a contar
Um sonho sonhado imaginado
Nas repetições e grilhões
Que serra o peito serrado.

Fuga dos dois pontos

Espalharam Palhares no mundo
Espalitado com gravata capital
Molho de calabresa, ceva,
“Madame Zelda”
Escritório de tribunal trabalhista;

26 de novembro de 2010

Aos leitores

Fiquei um tempo considerável sem escrever e principalmente sem publicar meus textos.
Motivo: o filme Nome Próprio.

Não que o enredo seja tão ruim assim.
Leandra Leal surpreendeu na interpretação. É uma excelente atriz. Tentei inclusive me fixar o tempo todo nas potencialidades da atriz e esquecer a personagem.

Depois de muito analisar, metaforizar e outras analogias mais, retorno.
Ainda é um pouco difícil pra mim esta questão. O eu na escrita, a simples reprodução egocentrista.
Clarice era Clarice. Ela sim pode fazer Água Viva e a lemos sem muito cansar.
Mas não sou e nem quero ser parecida com Clarice, nem com qualquer outra personagem artística, temporal ou não.

Talvez a maturidade e os cabelos brancos venham auxiliar-me nessa labuta.

Sou Daiane Costa e escrevo, pois como todo calouro artista, gosto de compartilhar meu olhar, aqui através das linhas e das palavras, assim como o cinéfilo/cinematógrafo usa uma camera e um editor, ou o fotógrafo sua máquina, o artista plástico o seu material, o ator o seu corpo e voz, o músico o instrumento ..., ..., ..., ....

Escrevo e eis me aqui novamente.

Bem vindos! Os comentários auxiliam na lapidação daquilo que um dia eu possa considerar Literatura.

Grata
D'ACosta
Hoje, ao ver a rara beleza da flor do cerrado, cutucou uma vontade de calçar as botas, chapéu com laço de fita na cabeça, um galho de árvore na mão pra sustentar a canseira,e seguir rodopiando por estas estradas dos sertões mineiros cantarolando cantigas sem fim

1 de novembro de 2010

Hoje estou apaixonada

Reverberando sensações de carinho carinhoso

Piegas e bobo assim mesmo

Gostoso

Sensitivo e com sabor de sorvete dos mais saborosos

Bonapetit

Mademoseile

Madame e Sr duque dos sete castelos de mar

Amar, amando, sonhando, sentindo e desejando

O amor...

Na eternidade das coisas acontecidas no seu instante de momentos

Vividos, sentidos, acarinhados com cinco dedinhos pequeninos e por outros maiores também

Mademoseile e Sr duque dos sete castelos de mar

Ela dorme nos braços da costa e ele passa caminhando pela sala

Sonhos de mar amando a costa do mar.