19 de abril de 2011

Lembro de já me encontrar dentro d’uma espécie de avião deitando em algo parecido com uma rede ou uma esteira com um material semelhante aos fios de seda que se fechavam como um casulo. O capitão pedia que fôssemos rápidos e deixasse a curiosidade pra depois. Ao meu lado tinha uma pessoa que não conheço. A voz do comandante da nave era ouvida o tempo todo.

___Preparem, pois vamos entrar em outro campo gravitacional, aqui é mais demorado devido a sua densidade. Do lado esquerdo podem ver o que vocês chamam de planeta do amor, à direita o planeta vermelho. Agora olhe para cima e veja se reconhece;

Tinha uma bola gigante azul coberta de algo que parecia algodão e uma bolinha branca bem menor ao lado refletindo o azul. Era o planeta Terra. Dava para ver os continentes.

___ Aquele lá é o Africano onde viviam seres semelhantes aos que encontraremos aonde vamos abastecer a nave e pegar as permissões de estadia por este campo, isso será daqui a pouco; Preparem-se.

Fiquei admirada com o tamanho da terra, depois vi que Marte era bem maior, e com uma poeira vermelha escura; Passamos próximo ao campo de gravidade da terra e fomos em direção a Marte. Via também as estrelas muito próximas, elas eram diferentes do que estava acostumada a enxergar, pois se pareciam com lâmpadas ou bolas de fogo de uma luz intensa.

Em cima da nave dava para ver uns discos meio que acoplados a estrutura central que era côncava mais achatada parecida com uma casca de paineira; Esses discos impediam que outros objetos batessem na nave, além de captarem os sons, as energias de diferentes composições em movimento assim como os minerais; era como um satélite e dentro dele tinham outros discos que saíam e entravam no campo gravitacional dos “planetas”, coletava dados e retornava à central em seguida;

___Preparem, pois vamos aterrissar. E lembrem-se todos de permanecer sempre em equipe e não vão a lugar nenhum sem a minha permissão;

A velocidade de entrada em Marte foi muito rápida tanto que não consegui registrar nenhuma imagem, ou a esqueci. Sei que entramos em uma espécie de redoma onde tinha uma plataforma, bem rústica e de ferro enferrujado. Lá descemos de dentro da nave. A nave passou por espécies de mecânicos, estes eram um pouco diferentes. Eles eram menores que a gente, mas com a mesma forma física, só que de cor marrom, parecidos que feitos de terra. Conversavam em outra língua, espécie de ruídos; Tinham a face muito séria e mal olhavam nos nossos olhos.

Fomos direcionados por uma escada rolante até uma cabine. Lá dentro era diferente. Era uma cidade suspensa construída de ferro, tinham um lugar onde todos faziam as refeições, era como se todos vivessem numa sociedade comunista e/ou numa colméia de vidro. Eram todos muito bem vestidos, as roupas eram semelhantes as nossas, mas além de proteger o corpo elas os alimentavam, hidratava, transmitia informações, avisava de presença maléfica, dentre outras funções. Parecia com uma barriga de tatu gigante, mas sem os pêlos.

As pessoas eram muito receptivas e educadas e havia alguns que falavam a nossa língua.

___ Bom dia capitão. Bem vindo. Estamos um pouco atarefados, pois perdemos muitos companheiros nos últimos meses. As invasões se tornaram constantes. Mas faremos de tudo para ajudá-los. Aqui está sua concessão.

Estavam acreditando que eram os espíritos da terra que vinham fazendo isso. Eles moravam no deserto e tinham aprendido a adquirir a forma do povo da colméia; assim conseguiam adentrar nas cúpulas. Lá dentro eles se alimentavam da energia das espécies, iludia e as levava ao campo externo até as mesmas se perderem e se tornarem iguais a eles.

Fomos então pra fora da cúpula, em direção ao deserto, ver o que estava acontecendo. Não era um lugar feio e sim uma grande planície parecida com o cerrado mineiro, mas com árvores e capim seco, uma luz muito forte com ondas de calor intensas e muita terra vermelha; não chegava a ser um deserto, pois não era de areia e sim terra dura, como a que encontramos em alguns lugares por aqui. Era semelhante ao grand canyon, sem as valas. Caminhamos por bastante tempo até que fui avisada que logo a frente tinha indícios de terem os tais espíritos.

Chegando mais próximo vi algumas mulheres de túnicas, roupas coloridas com o corpo todo coberto- eram vestidos largos parecidos com as roupas africanas- e algumas coisas estiradas no chão semelhantes a esteiras, pareciam vendedoras. Tinham grãos, peças feitas de barro, tecidos e roupas. Uma delas se aproximou de mim, estendeu a mão e começou a oferecer seus produtos e suas respectivas vantagens.

Por fim ela começou a murmurar reclamando sob sua vida, que estava ali há muitos dias sem conseguir vender nada, que estava com fome e muita sede. Tive pena dela e queria ajudá-la.

À medida que ouvia a mulher as pessoas do grupo que caminhavam comigo foram desaparecendo e não conseguia pensar numa forma de ajudá-la.

___Não sabia que tinha pessoas passando fome e sede por aqui.

___Pra você ver. Eles (apontando pra colméia) expulsaram a gente de lá de dentro, roubaram nossas casas e agora moça! Estamos aqui, nessa situação. Você precisa nos ajudar;

A voz da mulher ia penetrando na minha mente e aos poucos tudo ia desaparecendo ao meu redor.

A mulher me explicou que a família dela havia se perdido entre os espíritos da terra e que como ela era sozinha se juntou a outras mulheres que também caminhavam sozinhas e decidiram se ajudar e peregrinar pelos desertos, mas que os visitantes estavam cada dia mais poucos e isso as deixava em situação muito difícil. Chegou a me mostrar sua família, filhos, todos mortos na última guerra. Ela então estendeu a mão até mim e pediu ajuda para fechar a lona de sementes, pois segundo ela logo vinha uma tempestade e teríamos de nos esconder nas cavernas.

Neste instante vi o rosto dela, parecia muito com pessoas iguais a mim só que idosa; Quando ia pegar sua mão veio um campo gravitacional muito forte que me arrastou de lá e fui parar próximo a nave, junto novamente aos demais da tripulação.

__Viu, você deixou de nos ver, é muito fácil e rápido se iludir com esses espíritos, eles tem uma magia muito forte que faz com que você perca a noção de tempo, esqueça de onde veio e qual era seu objetivo ali. Eles são cativantes e quando você está totalmente cego por eles, começam a te sugar até achar que se tornou um deles e ficar sem energia vital nenhuma e por fim vagar igual a todos dos desertos e quando isso acontece você se torna escravo e eles colocam você para roubar dos mundos aquilo que precisam para sobreviver nos desertos.

___E por que fazem isso?

___Pelo mesmo motivo que você precisa tomar água e se alimentar. Vamos, antes que fique tarde.

Despedimos de todos por ali, entrei na nave, saímos daquele lugar vermelho e ainda deu pra ver a mulher enrolada nos panos, no mesmo lugar, parada, ajeitando suas coisas.

O comandante explicou mais coisas sobre o funcionamento daquele lugar e saímos do campo de gravidade da via láctea indo em direção a outro espaço, que era o nosso real destino, mas que não me lembro, pois eu acordei.


Primeiro despedi-me do parentesco mais próximo. Só sabia que chegara o momento de partir e que demoraria muito tempo para revê-los. Apesar de o saudosismo bater forte, segui. Já no meio do caminho, (não sabia aonde ele chegaria e aludi ser ali o meio pelo tempo já percorrido), percebi que a bolha a qual nos encontrávamos presos tinha sido coberta por uma redoma que eles chamavam de cúpula.

Nela as imagens que víamos eram sempre repetidas de maneiras, cores, e formas diferentes. As situações eram sempre as mesmas e apenas tínhamos a ilusão de que haviam mudado. Uma única coisa acontecia, sempre repetidamente. Além disso, criavam figuras estranhíssimas e induziam para que víssemos aquilo que nossos olhos e nossas mentes se permitiam enganar a partir do medo e do orgulho. Era tudo torto e cego.

Ao perceber o que estava acontecendo tentei buscar ajuda e à medida que ia negando os fantasmas que surgiam com suas falsas verdades, consegui vislumbrar uma imagem de muita luz que descia num campo tão claro, mas tão claro que creio que se fosse real; queimariam as minhas retinas. A imagem descia dos céus e volitando pousava leve próximo ao chão, distante, bem distante, mas dava pra perceber que tinha uma espécie de asas e era semelhante a um minotauro, mas sem chifres e com a face mais parecida a de um cavalo meio ser humano. Imagem nunca vista. Sem roupas, mas sem o nu, havia uma espécie de penas ou plumas ou pêlos espessos no corpo, tipo de escamas, com uma cor até então desconhecida semelhante à pérola nos tons róseos e azuis muito claros.

Rapidamente a imagem foi consumida por mais um espectral e chegou uma mulher próxima a mim correndo dos policiais. Esses policiais perseguiam e destruíam quem conseguisse enxergar a fenda da bolha. Eu seria a próxima. Comecei a correr assim que percebi o perigo, mas tudo era muito denso e a dificuldade de atingir velocidade era grande.

Então veio a mente a memória de alguns sonhos em que conseguia voar e tentei induzir a mente a tal feito, depois de muita concentração consegui começar a atingir certa velocidade e à medida que ia me concentrando a velocidade aumentava e meus pés não tocavam mais o chão; ao atingir uma velocidade que dava um “baita” frio na barriga começou a surgir um túnel com as paredes muito altas e de uma profundidade que não enxergava o seu final. Era de um rosa forte quase roxo e violeta com tonalidades que variavam do claro ao escuro.

Não sei ao certo quanto tempo permaneci ali dentro, sei que fui parar a distâncias muito longínquas e a sensação era inexplicável.

Cheguei, toquei a campainha e amigos abriram rapidamente a porta, pois sabiam que eu chegaria.

__Daqui a pouco eles passarão por aqui fazendo a ronda. Eles têm bom faro. Temos de nos camuflar. Vistam estas roupas pretas e passam aquela fumaça pelo corpo. É a única forma deles não perceberem a sua luz. Rápido!

12 de abril de 2011

abobrinhas mescladas a vontade de produzir algo que não seja nada circunstanciamente falando de Arte
penso no todo e na necessidade de uma crítica da falta e dificuldade de crítica onde tudo se resume no umbigo pequenino da provinciana metrópole
lembro que a crítica não é apenas a blablação costumeira e sim algo conciso e inerente à produção
uma sala preta
duas pessoas
uma mesa sem cadeiras
a lente ao alto estourando um branco em suas faces e mãos
uma terceira pessoa
um liquidificador
e várias coisas sendo postas na tentativa repetida e barulhenta de que sejam trituradas
um diálogo