O sino era o sinal que estava pra começar. Sinceramente dava uma "baita" vontade de rir daquilo tudo. Sempre pedia a Deus perdão, mas era tudo muito engraçado e não rir ficava difícil. Toda aquela gente de cabeça baixa, sofridos, arrependidos de não sei o que , falando baixinho pra ninguém entender nada sobre seus pecados. Mas passavam poucos minutos após o sermão todos voltavam ao normal e aja língua e olhos! O padre na frente seguido daquelas mulheres de véu na cabeça carregando coisas pra cá e pra lá. Ainda bem que tinham as janelas de vidro desenhadas contando a história de Jesus. Era um passa tempo e tanto imaginar todos os lugares que Cristo passou, só me deixava triste o quanto ele sofreu, nossa, e foi muito mesmo, me dava medo e ficava tentando imaginar o que ele deveria ter feito pra sofrer daquele jeito; outra dúvida que tinha foi como foram tiradas as fotos, será que Cristo era da idade dos meus pais? Lembro da mãe contar que máquina fotográfica era recente; Vai saber!
E ao soar do décimo a gente subia por aquela estrada de terra vermelha. O sol ardia a cabeça. Minha mãe e minhas tias iam conversando que nem maritacas e como sempre falando da vida de alguém. Esperto era meu pai que sempre arranjava uma desculpa e ficava pra trás. Um dia seria tão esperta quanto ele.
Quanta gente! As escadarias da igreja eram lindas, e eu ficava maravilhada com as pedrinhas que brilhavam com o sol, as vidraças todas desenhadas. Realmente estava em um lugar sagrado, a casa de Deus.
Mas como que Deus sendo apenas um, tinha tantas casas? Bem que ele podia repartir algumas; Muitos dos meus primos não tinham casa e ficavam mudando de fazenda a fazenda.
As paredes brilhavam tanto! Eu só não gostava das pedrinhas, elas machucavam. Acho que Deus não gostava que as pessoas se encostassem nas paredes da sua casa, deveria ser por isso das pedrinhas. Mas tinha uma coisa que desanimava ir à missa: aquele tanto de gente me apertando, aqueles perfumes doces, quando não parecia com aqueles remédios de matar barata.
__Como ela cresceu, está tão linda. Coitadinha, ela é muda? Não fala?
Lógico, se eu era muda, seria um tanto difícil falar, mas tudo bem. As vezes é bom as pessoas acharem que temos algum retardamento ou incapacidade, é melhor.
__Joana é assim, calada. Um bichinho do mato.
__Tem de levar ela no Dr. Genebaldo. A filha da Constantina era assim quando criança.
__E a menina ainda está dando trabalho pra mãe? Coitada dela. Deus me livre e guarde.
__Que nada comadre! Você não soube? A filha da Constantina morreu semana passada! Enfim deu descanso pra mãe. Não vê ela lá na frente. Ali ao lado do Joaquim?
__Mas ela não está de preto. A família sempre veste preto quando morre alguém!
__Pois é, mas a morte da filha foi um descanso à pobre. Todos agradeceram.
__É, e eu ouvi falar que o filho do João Pedro tá ficando assim também. Ouve vozes. Fala coisas estranhas que ninguém entende. Corre pelo pasto. Grita. Foi assim, é sempre assim, eles saem pra estudar, voltam pra fazenda e ficam loucos. Deus que me livre.
Será que eu iria ficar louca também? Pensava. Eu ouvia vozes, conversava com meu amigo invisível. Mas eu não tinha nada o que conversar com aquela gente.
__Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo...
__Amém!
__Responde amém em voz alta Joana! Pra Deus te escutar e saber que está aqui.
__Amém.
__Cordeiros de Deus que tirai os pecados do mundo!
__Amém!
trecho retirado da obra JoAna, Ana que anda... (Continua...
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